segunda-feira, 11 de julho de 2011

Não: já não falo mais de ti



Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.

Feche-se o coração como um livro,

cheio de imagens,de palavras adormecidas, em altas prateleiras,

até que o pó desfaça o pobre desespero sem força, que um dia, pode ser, parece tão terrível.

A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.

Resplandecem os azulejos- e tudo quanto posso ver.

O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário cismar.

Talvez se as pálpebras pudessem inventar outros sonhos, não de vida...Ah!

rompem-se na noite ardentes violas, pelo ar e pelo frio subitamente roçadas. Por onde pascerão, nestes céus invioláveis, nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando-se...Não só de amor a noite transborda mas de terríveis crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros. Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando, e os homens da lei sonolentos movem letras sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem... Ah! que rosto amaríamos ver inclinar-se na aére a varanda?

Nem os santos podem mais nada.

Talvez os anjos abstratosda álgebra e da geometria.Cecília Meireles

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